Apesar de ocupar o posto de “imperatriz dos eletrônicos” durante os últimos 15 anos a China vem sofrendo, recentemente, ataques diretos de outros países asiáticos que querem “destrona-la”. A potência, ao que tudo indica, encontra-se relativamente vulnerável graças a problemas internos: a inflação dos salários do setor e o crescente medo das peças falsificadas. Esse foi o principal tópico de discussão em uma de minhas recentes viagens à Shenzhen.
A inflação tem sido uma das principais preocupações do mercado desde o princípio. A reação dos fabricantes ao problema é a mesma desde os primórdios: a transferência das sedes industriais das áreas centrais de Shenzhen para a periferia e, em alguns casos, para outras províncias ou países. Nada mudou, essencialmente, desde que o Japão foi obrigado a compartilhar seus processos industriais com empresas de Taiwan e Coréia nos anos 80 – era a única forma de se manter competitivo. Mesmo assim, a cadeia estrutural em torno da indústria de eletrônicos é um fator a ser levado em conta – apenas nos EUA, atualmente, essa infraestrutura de empresas que abastecem a cadeia é tão completa. Portanto, mesmo os mais pessimistas têm que reconhecer que o posto não será usurpado com tanta facilidade – nem que os salários continuem subindo. Também é importante levar em conta a história do setor: os salários tendem a levar consigo a qualidade de processos de automação e tecnologia quando sobem. Isso significa que a China deve continuar seguindo os passos do caminho trilhado pelo Japão que, nos anos 50, não passava de um fabricante de transístores de rádio.
O que isso representa para nós? Todos os grandes gestores do setor seguem esse processo com atenção. Mas nossas fábricas continuam acompanhando o ritmo do mercado: e isso é visível nos preços que vêm caindo e nas novas estruturas sendo erigidas. Isso representa, claramente, que esse boxeador ainda aguenta muitos rounds.
Sobre o medo em torno das peças falsificadas, minha opinião é que a China, sem dúvida, tem uma má reputação quando o assunto são áreas turvas do negócio e peças “não exatamente” originais. Isso é uma preocupação séria para nossas fábricas locais, porque essa fama contamina muitos negócios legítimos.
Por isso conversamos tanto sobre o assunto quando estive lá. Nossa solução para esse problema, em particular, têm dois pontos principais:
1 – Só compramos de distribuidores de primeira linha que possuem certificação ISSO e que oferecem formas de rastrear os componentes desde suas fábricas originais. 2 – Fotografar cada bobina e etiqueta de pacote que recebemos. E transformar essas fotos em parte do nosso processo de certificação. Sem qualquer intenção de minimizar o problema, precisamos nos lembrar que os mercados “capengas” são parte integral do setor nos EUA há anos. Nos anos 90, quando eu ocupava um cargo de diretoria no canal de distribuição de um grande fabricante de componentes eu tive, por muitas vezes, que ameaçar com processos legais distribuidores “não-autorizados” que tentavam “sequestrar” nossos produtos.
Nosso trabalho é resguardar o processo sem fazer pressuposições e, portanto, oferecendo uma rede de segurança. Como disse o presidente Ronald Regan, “Confie, mas cheque”.